16 de dezembro de 2010

CAVALEIRO SoNHADOR







Tudo bem... Até pode ser que
os dragões sejam moinhos de vento.
Muito prazer... Ao seu dispor,
se for por amor às causas perdidas.

(Engenheiros do Havai)








Por anos aprisionado na
masmorra do formalismo,
alimentando-se somente
de contos e mitos.

Preso até a velhice,
porém os sonhos dele
o rejuvenesciam a cada
dia e seus desejos o
consolavam.

Uma vez devido a sua
grande magreza pelo vão
da porta pode passar e
enfim ficou livre para lutar.

A força dos músculos
dele já havia partido,
o que o movimentava
eram sonhos e mitos.

Peregrinava ele agora
pelas terras outrora suas
que na sua infância por
um cavaleiro negro
foram roubadas.

Ele muito poderoso
intitulou-se como rei,
era gelado como um
morto, o aclamado
Grande Realidade.

Realidade e seus súditos
dominavam todo o povo
e os mantinham presos
em um cerco invisível.

O cavaleiro velho e raquítico
buscava sua agora velha casa,
sua mente pelo caminho era
açoitada pelas lembranças.

Ele ficava se perguntando,
Imaginando tudo que poderia
ter ocorrido caso não tivesse
               sido subjugado.

Ele encontrou sua casa quase
     que pela mata dominada.

No velho celeiro seu pai escondia
uma armadura e armas que pelos
anos e o descuido estavam velhas
                          e enferrujadas.

Ele se vestiu com dificuldades e
saiu em busca do grande confronto.

Todavia o cavaleiro precisava
de um cavalo e um escudeiro,
então se lembrou do seu potro
que foi separado dele na sua
                            infância.

Encontrou ainda vivo o potro
que agora era um cavalo velho
                             e magro.

Batizou-lhe então com um
poderoso nome, seria a partir
daquele dia chamado Rocinante.

Faltava-lhe agora o escudeiro,
e na fazenda vizinha viu-o
homem baixo e gordo.

Prometeu-lhe uma ilha, um reino.

Chamou então o cavaleiro
o homem de avantajada barriga
Sancho Pança seu único e mais
            fiel companheiro.

Ao passar eles pela cidade
foram zombados pelos cidadãos,
o velho cavaleiro recebeu do povo
maldosas palavras e insultos.

Estavam tão contaminados
com o jugo daquele reinado
que sua alegria maior era
desacreditar em tudo o
nobre cavaleiro.

Todavia o velho cavaleiro
em nenhum momento deixou
de crer nos sonhos que tinha,
sonhos estes que o haviam
                         salvado.

O idealismo do cavaleiro
era profundo e vibrante,
não se conformava com
um reinado dominado
por aquele tirano.

Seu corpo estava decrépito,
o do seu cavalo também, seu
escudeiro de luta nada entendia,
mas ele enxergava muito além.

Por isso muitos diziam ter ele
sido acometido de loucura,
estar vivendo uma ilusão e
que tudo que ele afirmava
era só fantasia.

Rocinante para ele era um forte cavalo,
Sancho pança um conselheiro, homem
                                    fiel e digno.

Ele se via como um lendário cavaleiro
andante e no cavaleiro negro via sua
                                     redenção.

Passou o cavaleiro muitos perigos,
foram longos os dias e cavalgadas.

Sua valentia era magnífica e
sua honra sempre o precedia.

Ele foi além dos limites e ao
longe avistou dezenas de gigantes
mais altos até que os moninhos de
                                vento.

Qualquer um deles teria corrido,
mas o cavaleiro corre em direção ao
maior deles, empunha sua lança e
da de frente com o grande gigante.

Ambos vão ao chão, o gigante
ao ver debaixo do elmo um velho
raquítico sente-se tão humilhado
que declara derrota.

O cavaleiro e Rocinante
quase tinham por pouco
todos os ossos quebrado.

O cavaleiro já recuperado chega
à terra conhecida por Mancha e o
cavaleiro negro o desafia para um
duelo inigualável.

Realidade diante do cavaleiro
admirasse por ter ele da masmorra
saído vivo e naquele estado ter
chegado tão longe.

Ele aceitou o duelo,
o vencedor teria então
                o reino.

Prepara-se a arena real.

Quem será o vencedor?

Era este o pensamento do povo
que se admirou ao saber da boca
do próprio gigante, sobre sua
queda humilhante.

Ambos aparelharam os cavalos
com ajuda de seus escudeiros,
desigual era o desafio todo o
povo pensava nisto.

De um lado um cavaleiro velho,
do outro um cavaleiro negro que
parece não ter um único dia desde
a conquista das terras envelhecido.

É dado o sinal da luta,
todos ao redor pararam de
respirar nos segundos seguintes.

O velho cavaleiro mira a lança
no elmo de seu adversário,
o cavaleiro negro mira a lança
no peito de Rocinante.

Chocam-se como as ondas,
foi tudo rápido como um
                 relâmpago.

De um lado o cavaleiro negro sem elmo,
do outro o velho cavaleiro sem Rocinante,
com lágrimas o cavaleiro se despede do
seu velho guerreiro quase puro sangue.

A disputa agora seria decidida
através do digladiar de espadas,
ambos já estavam preparados e o
povo mal acreditava no que se
                              passava.

O cavaleiro negro estava todo coberto,
só lhe faltava da cabeça o elmo,
tão resistente era sua armadura
que diziam ter sido feita por Hefesto.

Ao tocar de um sino
o combate se reinicia,
o velho cavaleiro com
resistência e coragem
recebia os golpes
incessantes.

Sua armadura pela arena como
casca de ovo se desmanchava, mas ele
continuava de pé e perseverava.

O povo se emocionava diante de tal valentia.

Começaram a acreditar no
sonho e desejo do cavaleiro
por liberdade e justiça.

O cerco invisível começava a ser rompido.

Rompido por lágrimas e gritos de
incentivo ao velho cavaleiro que
se prepara para o último ataque
completamente exausto e sem
forças.

Ao ver sua espada e
a palavra quimera nela
gravada, de súbito é
tomado de forças.

Vinha dos seus sonhos,
do povo que clamava,
do sangue de seus pais,
Do próprio Rocinante.

Avança contra Realidade
como uma tempestade e
este vem contra ele como
o irreversível eclipse.

O que se sucedeu foi tão rápido
que é difícil ser relatado.

O cavaleiro negro agoniza caído
com um profundo corte no pescoço
e o velho cavaleiro esta ajoelhado
e nele presa a espada que varou sua
armadura e atravessou seu corpo.

Ele se livra da espada e cria forças,
põe-se de pé e anuncia sua vitoria.

O povo enfim é liberto e
aclamam a grande vitoria
com gritos, lagrimas e risos.

Ele chama para perto de si seu escudeiro
E diz: – lembra-se da promessa de um
reino, eis aqui e diante do povo
o proclama rei da Mancha.

Novamente cai de joelhos e
nos braços de Sancho Pança
morre trazendo no rosto
um sorriso sereno.

Foi ele recebido de pé nos campos
Elísios pelos grandes heróis do
passado,
era cumprimentado e admirado.

Ele viu vindo ao longe
seu cavalo Rocinante
não magro e velho,
mas na flor idade.

E ao ver-se direito notou que trajava
uma veste real reluzente, e seu
corpo era forte novamente.

E lá pelo próprio rei Arthur
foi diante de todos sagrado como
Dom Quixote de La Mancha,
o cavaleiro sonhador.

 Para sempre lembrado por
ter depositado á vida em sua espada e
com único golpe impulsionado pelo sonho
vencido o cavaleiro negro Realidade.

Sua lâmina reluzente ainda brilha
inscrevendo um arco final
em todos os amanhas...




Autoria: Jordão Tomaz

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