14 de dezembro de 2010

HORA dOS LOBOS







Eu sou uma pergunta para mim mesmo, um enigma exasperador... essa estranha dualidade de pó e glória.

(Richard Holloway, bispo católico)








A insensibilidade havia se
espalhado por minha alma
e eu caminhava obstinado
em uma estrada tenebrosa
perdido e orgulhoso.

As feridas que causei me acompanham,
pensei que fugindo elas me esqueceriam.

Estava muito fadigado e meu
sangue se esvaia, junto com ele
a vontade de viver novamente.

Mais ferozes e velozes que os lobos eram os demônios que me
espreitavam no escuro, eles estavam esperando eu cair de joelhos
                                                         para levar meu corpo.

É triste andar sozinho
e não conseguir ouvir
as vozes atrás de mim.

As vezes eu sorria mas era tudo fingimento, me sentia oco por dentro.

Sem esperanças
de vivenciar um
amanhecer me
escondia de tudo.

De que vale viver uma vida sem propósitos?

Queria despertar em uma
manha fria e agradável,
caminhar em uma rua
 antiga feita com pedras
a sombra das arvores
e respirar a neblina.

Me vejo cada vez mais encurralado por dogmas
e laços familiares corrompidos pela ferrugem.

Os anos me prenderam em uma redoma de vidro.

Pra mim a poesia é
um vislumbre da verdade,
o que restou de minha
singularidade...

...é um paraíso perdido onde
posso descansar um pouco.

Não lamento ser incompreendido mas,
sim não conseguir me fazer entendido.

Eu me sinto tão sujo
quando penso na santidade,
tão estúpido por ser mais
uma peça do sistema e
estar as margens da
transformação.

Minhas orações são repletas
de repetições e palavras vazias.

O sono tornou-se um atalho
para o mundo dos seis sóis.

Nunca consegui atravessar o caminho para renovação.

Sinto-me velho e cansado,
sem saber o que é o amor ou
amar alguém de verdade.

Sigo sempre em círculos
vivendo o mesmo conto com
personagens diferentes.

Trai meus projetos,
meus sonhos de infância,
pessoas que acreditaram,
minha fé e meu Deus.

Um dia eu chorei ao
ouvir um pedido de socorro
vindo do norte, me senti vivo com a
idéia de fazer o bem e me doar para alguém.
Por um curto tempo me senti pleno e feliz,
todavia não consegui socorrer o norte e
esse fracasso sempre me questiona
sobre o que poderia ter ocorrido,
ou quem eu seria hoje.

Não vejo mais cores nas coisas,
o que temia  me aconteceu e
em cor cinza me transformei.

A revolução foi congelada em um dia distante.

Mortos não salvam vidas.

Preencho meu tempo
tentando enganar a sorte, fingindo
ser alguém de verdade.

Sua vida e sua musica,
o que desejo um dia ser,
revelou toda minha feiúra
e insensibilidade a vida.

Não sei se era amor,
eu só sei que te perdi.

O que reputava verdade mostrou-se engano.

Meus princípios morais
escaparam de minhas mãos
e voam muito alto.

Não sinto mais medo da morte,
ela é uma bela mulher cujos cabelos
negros tocam o chão todo florido.

Seu sorriso discreto,
seus longos braços nus,
seus lábios perolados,
pele alva e tatuada.

Seus olhos verdes e claros
convidam-me para segui-la.

Toda noite me sinto angustiado, não consigo me apegar a nada e não me
                                                                            sinto feliz no lar.

Quero ir para bem longe
e sentar a mesa sozinho.
Quando voltar a me lembrar
vou fugir para outro lugar e
assim esquecer novamente.

Sou inconstante ate
mesmo na minha frieza,
como o mar em ressaca
e as chamas ao vento.

Tenho poucos amigos.

Sou um sentimental sufocado pela costura em meus lábios.

Sempre quis conhecer a paixão
mas hoje eu tenho vontade de
esquecê-la para sempre.

Tive tantas oportunidades,
hoje não me sinto digno
de uma nova chance.
Minha culpa persiste em
tentar anular a graça divina.

Sinto vontade de me entregar,
de correr e abraçar a morte,
não porque minha vida é ruim
e dolorosa mas, porque tenho
vivido de maneira medíocre.

O importante são as pessoas
e levaremos só as lembranças,
os momentos que me deste
já foram o suficientes.

O tudo não existiria mais
se não fosse a certeza
que tu existe e vai alem
da minha consciência.

Queria viver no alto da roda gigante
e ter um mundo pequeno outra vez.

Nada é tão difícil e desafiador como saber amar alguém.

Se pudéssemos voltar no tempo o mundo seria perfeito.

Você é tão linda e agradável,

um acalento aos olhos,

a princesa do deserto,

uma estrela cadente,

uma flor no pântano,

meu sonho intocável.

Não sei se a estrada ainda
continua tenebrosa ou se
são meus olhos que estão
cauterizados pelas trevas.

Tanta coisa perdeu o sentido,
de que vale meu lamento?

Suas borboletas estão presas em meus cadernos,
as vezes eu escrevo alguns versos nas asas delas e as
solto a meia noite na esperança de que cheguem ate
você mas, acredito que elas se perdem ou morrem
                                                  no caminho.

Atrás da janela fechada
brilha o céu azul, mas o que
pode estar por detrás de rostos
trancados pelo desespero?

A vida custa tão pouco.

A criança hospitalizada foi salva como que por milagre.

Milagres não falam e correm.

Pessoas encerradas num abismo
sem fim esperam ouvir de alguém
um forte grito de liberdade.

Flores podem machucar.

Não existem limites para o amor e a maldade humana.

Meus heróis já se foram e me vejo a sós com o fracasso.

Deus nunca me abandonou,
fui eu que não soube distinguir a
sua voz em meio a tempestade.

Minha máxima culpa.

Tenho poucas linhas e tanta coisa para confessar.
Não encontro em mim capacidade para através
de palavras
expressar a maior parte dos meus sentimentos.

Como a dança do vaga-lume
que dura apenas uma noite,
assim é a minha curta vida,
sei que não vou iluminar
todo o mundo mas, espero
clarear a visão de alguém.

Já vejo os primeiros raios de sol despontando atrás das montanhas,
a luz aponta para o meu fim e um recomeço para mim
sem choro, arrependimento, dor e escuridão.

Minha pequena luz não vai
deixar de brilhar ela será
assimilada pelo sol.

Queria escrever mais sobre amor e perdão,
porém a despedida toca mais forte.

A única coisa que lhes deixo
é a saudade de momentos
que nunca aconteceram.

Posso chorar novamente, não tenho mais forças para
continuar caminhando, só me resta cair de joelhos e me
despedir sem usar palavras, apenas com um sorriso.

Essa é a hora dos lobos...





Autoria: Jordão Tomaz

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